20 e Poucos Anos

Uma canção atemporal

Gualberto Gouvêia, Psicanalista

06 de outubro de 2017

Em 1979, quando esta música foi lançada como tema da novela Água Viva da Rede Globo, o Brasil ainda vivia sob a censura da ditadura militar, esta já um tanto enfraquecida. Os ventos da redemocratização traziam sonhos, utopias e uma grande vontade de viver tudo aquilo que havia sido negado.

Foi nesse clima que Fábio Júnior compôs “20 e Poucos Anos”. Àquela época ele estava casado com Teresa e, já um tanto desanimado com a rotina do casamento, ele, que diz se expressar melhor pela música do que numa “DR”, pegou o violão e “cantou” para ela o recado que queria transmitir.

O tempo passou, aquela ditadura acabou, o consumismo se instalou como nova forma de ditadura, mas essa canção permanece viva e atual. Recentemente foi regravada pelos Raimundos e se tornou novamente um fenômeno. Nos shows desse grupo de rock o público vai ao delírio quando a canta. É como se a juventude quisesse dizer para o mundo: “nós ainda queremos viver muito mais além do que vocês imaginam”.

Esse sentimento é atemporal. Freud nos fala das pulsões, que não se confundem com os instintos. Enquanto o instinto tem um objeto de satisfação definido, na pulsão esse objeto é indeterminado e alguma coisa trabalha para que não haja uma satisfação plena. Assim, sobrevém a falta que nunca será suficientemente satisfeita, mas ela fica cravada na carne, lembrando que as utopias, estão bem vivas aos 20 e poucos anos e além. Ainda bem.

Feliz de quem passa muito além dos 20 anos e ainda possui planos, utopias, que não desiste dos sonhos demonstrando poder de resistência nestes tempos difíceis que vivemos, pagando o preço para viver plenamente e, dessa forma, dizendo sim à vida.