Fotos dos filhos nas redes sociais

Qual o limite da satisfação dos pais?

Dalvanira Lima, Psicanalista

15 de julho de 2019

Recentemente, o jornal El País publicou um artigo em que chama a atenção para a excessiva exposição da imagem de crianças na internet praticada, principalmente, pelos próprios pais.

Ainda que pais estejam abarrotando suas páginas nas redes sociais com fotos dos filhos, babar por seus pimpolhos não é um fenômeno que adveio com a internet.

Freud, em 1914, em seu artigo intitulado “Introdução ao Narcisismo”, já nos fala que os pais revivem nos filhos a oportunidade de restabelecer a imagem idealizada que um dia tiveram de si próprios – aquela fase em que se sentiram “o bebê mais lindo da mamãe”.

E disse ainda que esta tentativa de restabelecimento do narcisismo dos pais é fundamental para a constituição do Eu da criança. É essa imagem projetada pelo desejo dos pais que funcionará como um norte no qual a criança irá mirar para tornar-se o que virá a ser.

Nessa jornada, quando as coisas vão bem, tanto pais perceberão que os filhos não darão conta de ser tudo o que eles pais quiseram e não puderam ser quanto filhos, inseridos na sociedade, se descobrirão desejos de outras coisas que não só aquelas almejadas por seus pais.

 

Ensaio newborn 

Então, qual o problema em publicar na internet a foto da criança mais linda, esperta e inteligente do mundo?

Talvez nenhum. Salvo os excessos que podem estar relacionados à maior duração e intensidade da revivescência desse narcisismo dos pais, agora facilitadas pela fase tecnológica que estamos vivendo.  

Pais, que alimentados por curtidas e comentários elogiosos, ao transformar os filhos em objetos da satisfação de suas fantasias, podem se esquecer de que crianças, até recém-nascidos, são sujeitos e deveriam ser vistos e respeitados como tal.