Teletema: Sobre o luto
Gualberto Gouvêia, Psicanalista
18 de setembro de 2017
A ideia de morte é um dos dilemas fundamentais do ser humano e nos coloca diante da reflexão sobre o sentido da vida. Buscamos construir o entendimento do que significam as diversas faltas, as separações que povoam nossa existência e a nossa própria finitude.
Por vezes, ideias difusas surgem em nossa mente como um funeral, um acidente, um cemitério, significantes presentes que nos lembram uma ausência.

O sentimento de perda sempre atormentou o ser humano. Os gregos acreditavam que os deuses poderiam se apoderar do nosso destino. Eles chamavam isso de possessão e sofriam por perderem a condição de senhores do próprio rumo.

A tradição judaico cristã considera a perda da fé um forte motivo para o sofrimento.

Nos tempos líquidos em que vivemos, a melancolia é a face mais visível desse sofrimento, da perda de si próprio, da perda dos desejos que não possuímos e que são despertados pela  cultura que torna nosso o que nos é estranho.

Na morte, os que ficam precisam conviver com o sentimento difuso de culpa por terem sobrevivido e a raiva por terem sido deixados.

Para se ter uma vida saudável, é preciso um equilíbrio entre o investimento libidinal do eu e dos objetos. É preciso aprender a conviver com a falta.

Melancolia – Munch
Tibério Gaspar é o autor da letra de Teletema, musicada por Antonio Adolfo. Essa canção foi gravada originalmente por Regininha e fazia parte da trilha sonora da novela Véu de Noiva, exibida entre 1969 e 1970.

Gaspar havia perdido sua namorada em um acidente de carro. Os dois eram apaixonados e faziam muitos planos para a vida. Em uma curva, o carro capotou e ela faleceu. Gaspar então mergulhou no luto que Freud nos diz ser “a reação à perda de uma pessoa querida ou de uma abstração que esteja no lugar dela”. No caso, era uma pessoa concreta, real. O autor confessa que perdeu o rumo com essa morte e não sabia muito bem o caminho que daria para sua vida.

Como o próprio Freud afirma, o luto nos mobiliza por um tempo, mas saímos dele aos poucos, pois nosso impulso para a vida acaba, na maioria dos casos, falando mais alto. Quando o objeto amado não existe mais, é preciso que toda libido seja retirada de suas ligações com esse objeto. Quando se completa o ciclo, o estágio do luto está vencido e pode-se viver então novamente. Teletema é um belo exemplo da elaboração e superação de uma ausência.

Para saber mais:

Luto e Melancolia, Sigmund Freud, ed.Cosac e Naify

O Homem Diante da Morte, Philippe Ariès, Ed. Unesp

Eu vou de sol a sol
Desfeito em cor
Refeito em som
Perfeito em tanto amor