O sentimento de perda sempre atormentou o ser humano. Os gregos acreditavam que os deuses poderiam se apoderar do nosso destino. Eles chamavam isso de possessão e sofriam por perderem a condição de senhores do próprio rumo.
A tradição judaico cristã considera a perda da fé um forte motivo para o sofrimento.
Nos tempos líquidos em que vivemos, a melancolia é a face mais visível desse sofrimento, da perda de si próprio, da perda dos desejos que não possuímos e que são despertados pela cultura que torna nosso o que nos é estranho.
Na morte, os que ficam precisam conviver com o sentimento difuso de culpa por terem sobrevivido e a raiva por terem sido deixados.
Para se ter uma vida saudável, é preciso um equilíbrio entre o investimento libidinal do eu e dos objetos. É preciso aprender a conviver com a falta.
Gaspar havia perdido sua namorada em um acidente de carro. Os dois eram apaixonados e faziam muitos planos para a vida. Em uma curva, o carro capotou e ela faleceu. Gaspar então mergulhou no luto que Freud nos diz ser “a reação à perda de uma pessoa querida ou de uma abstração que esteja no lugar dela”. No caso, era uma pessoa concreta, real. O autor confessa que perdeu o rumo com essa morte e não sabia muito bem o caminho que daria para sua vida.
Como o próprio Freud afirma, o luto nos mobiliza por um tempo, mas saímos dele aos poucos, pois nosso impulso para a vida acaba, na maioria dos casos, falando mais alto. Quando o objeto amado não existe mais, é preciso que toda libido seja retirada de suas ligações com esse objeto. Quando se completa o ciclo, o estágio do luto está vencido e pode-se viver então novamente. Teletema é um belo exemplo da elaboração e superação de uma ausência.
Luto e Melancolia, Sigmund Freud, ed.Cosac e Naify
O Homem Diante da Morte, Philippe Ariès, Ed. Unesp
Desfeito em cor
Refeito em som
Perfeito em tanto amor